Os Bardos e um novo som da Ibiapaba

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Foto: Renancio Monte

A Ibiapaba, sem dúvidas, foi a minha primeira e maior escola musical. Na primeira metade desta década pude participar dos inúmeros festivais, intercâmbios e outros momentos que essa região propicia musicalmente a centenas de pessoas, e tive assim, a oportunidade de praticar outros sons, e principalmente por em exercício o ouvido a outros ritmos, distintos a mim até aquele instante.

Historicamente, a zona norte cearense, pelo menos nos últimos 50 anos, esteve presente produzindo, criando, participando dos grandes momentos de vanguarda da música regional e mesmo nacional, seja com o Pessoal do Ceará, que desaguou no Massafeira na década de 1970|1980, o Movimento Cabaçal da década de 1990|2000, até o movimento atual, extremamente produtivo e rico artisticamente, com muita gente boa trazendo sons originais, únicos e marcantes a esta terra de Alencar, e por conseguinte a toda terra Brasilis.

Nos últimos meses ao zapear páginas de redes sociais, esbarro com um som distinto, singular, ímpar de uma turma com uma energia única, que pra minha surpresa e alegria era da Serra Grande da Ibiapaba, Os Bardos. Com o passar dos dias, junto da CIA Criando Arte em Varjota, inauguramos a Casa de Arte CriAr, sede de nosso grupo teatral e um espaço cultural para produção de espetáculos e vivências artísticas. Foi aberto um edital de ocupação e recebemos a proposta de trabalho desse trio para uma apresentação intimista|acústica do seu novo trabalho [realizada ontem (16|Jun)]. Tive assim a oportunidade de produzir e conhecer mais a fundo e de perto o trabalho do grupo, que é fantástico.

A banda em circulação do seu primeiro trabalho, o disco e show Humanum, gravado junto ao estúdio Mangaio de Tianguá neste começo de 2018 e está rodando diversos palcos, dos mais importantes, em vários pontos do Ceará. O grupo formado pelo trio Paulo Marcelo (vocal e guitarra) de Viçosa do Ceará; Francisco Gustavo (vocal e baixo) de Tianguá; e Werbert Souza (bateria ou percussão) de Ubajara, traz de fato uma nova poética às produções sonoras das bandas de cá deste oeste cearense e marcam com passo firme a sua estadia neste cenário musical.

O termo bardo é quem, na Europa Antiga, se encarregava de transmitir histórias, poemas, lendas de forma oral, cantando os mitos do seu povo em poemas recitados. Dessa fonte, Os Bardos beberam e o são, trazem como primeiro plano em seu trabalho: o rock, com um repertório poético-musical quase que exclusivamente autoral em letra e música, com a presença de releituras de clássicos de Gonzaga e do Quinteto Armorial. O grupo traz uma estética visual distinta, tons claros, figurinos soltos que trazem simbologia a um aspecto medieval e hippie, e tornam o ambiente leve. Humanum, apesar de serrano, é um trabalho do Sertão. Âmbar. É envolvente, introspectivo e o grupo vai|foi longe em sua pesquisa harmônica e melódica, e trouxe influências que vão desde a música moura, a psicodelia, até a batida tribal dada por Webert em sua percussão. Com poesia seca, profunda, em tom profético com vocais e cordas toantes de Marcelo e Gustavo, que ecoam. É uma música alicerçada, firme, forte, presente, que rasga, e que como cicatriz, fica.

E assim, a Ibiapaba continua sua sina a me ensinar e a me apresentar música e outras sensações, desta vez com Os Bardos e seu Humanum.

Mailson Furtado,
diretor e ator da
CIA Criando Arte